segunda-feira, 16 de abril de 2007

Consciência (Biodinâmica)

Olá pessoal!

Devido ao facto de termos falado ontem em consciência na formação de massagem, e de que esta ter um papel tão preponderante não só na própria massagem mas também no processo de cura. A ideia é escrever aqui um artigo muito informal e desorganizado, por isso não com tanto rigor como seria desejável; também gostava que fosse um texto que lança-se alguns tópicos para reflexão e não tanto uma resposta rápida e indolor para o problema da consciência (já que tal resposta seria ilusória).

Não é um texto sobre massagem biodinâmica mas está muito relacionado com ela, já agora queria dedicá-lo ao nosso colega Luís Marques que insistiu que levasse para casa um livro dele sobre este assunto e cujas intuições me inspiraram muitooooooo.

Então aqui vai.Santo Agostinho nas Confissões diz que é muito evidente para ele o que é o tempo, mas quando lhe perguntam o que é o tempo essa evidência desvanece-se e torna-se em algo muito complexo; o mesmo, creio, se passa com a consciência. Isto talvez signifique que temos um conhecimento muito empírico muito prático dela mas quando começamos a reflectir que papel esta executa e em que consiste deparamo-nos com muitas incertezas.

A consciência é uma palavra latina, conscientia, que significa com conhecimento e pode-se traduzir numa forma muito simples no facto de nos apercebermos que temos uma relação com o mundo e de poder reflectir sobre ela, o que significa que a consciência pode constituir percepção que temos sobre as coisas do mundo e sobre nós mesmos (consciência de si, desdobramento da consciência), sobre as nossas acções e pensamentos.Do que tenho lido acho que um dos principais problemas é de facto saber como construir um conhecimento da consciência, se deve ser a neurociência a fazê-lo, a psicologia, a filosofia, a religião e segundo muitos aquela área da ciência que hoje está muito na moda chamada mecânica quântica. Eu cá acho que devem ser todos, todas as áreas devem contribuir com mais ou menos rigor, com mais ou menos “método cientifico”, numa verdadeira abordagem transdisciplinar, já que vinha mesmo a calhar um novo paradigma de pensamento e já agora de acção e que melhor assunto que a consciência para servir de porta-voz para uma nova maneira de encarar as coisas?E por que é que esta questão de um novo paradigma está tão ligada à questão da consciência? Porque realidade é vista, segundo a ciência (quando falo aqui de ciência refiro-me mais à física clássica e a autores como Newton e Descartes) como uma coisa dual, um sujeito e um objecto (espírito e matéria), e desta forma um sujeito que olha para o mundo e que o questiona, que o investiga, que tece teorias acerca dele mas que está numa posição que lhe é exterior, no fundo como um desadaptado, um marginal; é uma perspectiva que remete o humano para fora do mundo, para fora da própria natureza. Na massagem biodinâmica aprende-se creio eu métodos de auto-regulação de harmonia que se aproximam muito dos da natureza, como os opostos que se equilibram, o dia e a noite, o feminino e o masculino etc. A alteração de paradigma consistiria numa perspectiva mais una, mais abarcante da realidade, menos fragmentada por diversas áreas de conhecimento. Mas voltando à questão da consciência é que a perspectiva cientifica (dual: o investigador e o seu objecto), nomeadamente a neurociência tem sido claramente insuficiente para resolver a questão da consciência, os processos neurofisiológicos parecem não explicar os processos decorrentes da consciência, não se consegue encontrar um correlato satisfatório. E depois é chato (é mesmo chato) defender que a consciência, alma, psique se situa no cérebro!!!!! Chato e estranho.


Uma mudança de paradigma implicaria na minha opinião que a ciência admitisse que sim que é brilhante mas que precisa de outras áreas e que outras áreas precisam dela. E mesmo dentro da própria ciência áreas diferentes podem se inter ajudar nomeadamente a mecânica quântica (que contraria algumas das coisas defendidas pela física clássica e do antigo paradigma inaugurado em grande parte por Descartes). Coisas estranhíssimas que vão contra o senso comum como “uma coisa não pode estar em dois sítios ao mesmo tempo” (a questão da localidade das coisas), ou “a realidade é sempre a realidade e vai lá estar igualzinha sem alterações nenhumas se eu deixar de olhar para ela” foram seriamente questionados, devido a várias investigações acerca de electrões e do seu comportamento algo errático.Se por analogia relacionarmos a questão dos electrões com a da consciência por mais esquisito que seja (há autores que questionam muito isto que eu estou a fazer!) parece fazer sentido e é incrivelmente poético. Primeiro porque a consciência também é não local, não sabemos onde raio é que ela está e depois parece mesmo que a consciência influencia a realidade tal como o cientista influencia o comportamento do electrão quando o observa, ou seja, podemos criar a nossa própria realidade! Isto tudo de uma forma muito grosseira e não fundamentada. E aqui introduzo a importância da massagem biodinâmica porque tem em consideração o facto de o indivíduo ser co-responsável pela sua realidade, e se a sua forma de a ver mudar (é isso que se pretende penso, nomeadamente na dissolução de neuroses) a realidade muda. A mudança é feita a partir de dentro, a partir da própria consciência, e talvez seja por isso que a consciência tem uma importância tão fulcral na doença e na cura da mesma.


Falava ontem com a Caíca, numa opinião correcta e numa prática correcta (orthodoxia, orthopraxia) e este artigo se se colocar na dimensão opinativa por assim dizer, a massagem (apesar da sua dimensão teórica) coloca-nos na prática e na resolução prática dos problemas ou então noutro tipo de prática como a contemplação ou simplesmente apanhar um banho sol e passar um bom momento.Daí que a questão da consciência não me parece que se coloque nesta ou naquela área porque posso aprender acerca da sua importância numa aula, num livro quer seja de filosofia, ciência, religião, desenvolvimento pessoal etc… quer seja numa meditação ao ver o fumo do incenso passar ou numa formação de massagem; e que necessita pela sua complexidade de uma abordagem transdisciplinar, holística (do grego holos - todo).

David Bohm um físico mas que mais parece um poeta faz-me lembrar um filósofo grego chamado Heraclito (conhecimentos com mais de dois mil anos encontram-se com conhecimentos actuais), diz que há uma realidade implícita una e o que vemos são partes, fragmentos revelados dessa mesma realidade una; quase como se ao olharmos para uma série de árvores não estivéssemos realmente a ver a imensidão do bosque. Quem sabe se essa realidade una pela qual todas as quais acontecem não é isso a que chamamos consciência.


Pessoal vou tentar mais tarde escrever um texto acerca do papel da consciência na massagem biodinâmica e assim estarei ainda mais dentro da temática aqui do Blog.Há um livro, penso que é interessante chama-se “corpo no limite da comunicação” é do Eubens Kignel, summus editorial, tem um capítulo muito bom, bem organizado sobre a consciência, fala também sobre dois filósofos Deleuze e Guatari (Marta perguntaste-me pelo Deleuze lembras-te?).

Beijinhos a todos. Se alguém poder com horários compatíveis estou disponível para treino de massagem (e também precisada!)
Catarina

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